Todo homem é uma ilha...
(Toda mulher é uma ilha).
É bom ser uma ilha distante
tanto quanto é bom ser um homem.
Todo homem possui uma ponte,
pois é preciso sair da ilha, seguro.
A ponte de um homem é um braço estendido.
Todo homem é um mundo.
O mundo roda no sistema egocêntrico
de suas realidades,
pequenos alumbramentos,
medos e coragens.
E quando o homem encara o mundo e se depara
- homem-mundo,
mundo-homem, volta à ilha:
Todo homem ama sua ilha.
II
O homem faz o homem.
E porque fez o homem, sem nem o homem querer
aufere direitos do homem.
Diz a ele: Cresça!
E ele fica mais alto.
Diz ao homem: Trabalhe!
E ele usa o corpo.
Diz ao homem: Viva!
E ele respira e existe.
Diz ao homem: Ame!
E ele não sabe como.
Mas diz ao homem: Procrie!
E ele faz homens.
Um dia ele morre.
Se a vida foi longa para viver -
é curta para morrer -
porque o homem não fez,
não escolheu, não pensou nada.
III
O que faz um homem diferente de outro homem
é o que ele pensa.
O que o transforma, também,
de um simples fazedor de homens,
num criador de homens.
Todo homem é uma vontade.
E se deixa de ser vontade
teme a perda de sua posse.
Todo homem é uma consciência.
Nela inclui o seu saber
e a parte maior do não saber,
e se aceita o fato,
é com ela que ele se entende.
Todo homem é seu corpo.
E sabe dele em contraste com outro corpo,
tal é a sua medida.
Como também, a medida de um homem é a sua carência:
porque é assim que ele se assume,
porque é assim que ele se liberta.
Quanto mais ele precisa
mais ele é maior.E dá.
Pede. Reivindica. Exige, quanto pode.
Luta e sofre.
Todo homem quer deixar sua ilha.
Temeroso de ter que voltar um dia, entretanto,
não destrói as pontes.
Enquanto isso, a ilha fica ali, só ilha.
A ponte fica ali, só ponte.
E o homem fica ali, só homem...
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 28 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Despertador
O despertador toca, são 16h. O rádio com relógio é uma das poucas coisas tecnológicas da casa. Uma tv antiga, os móveis de fórmica azul. As flores de plástico não precisam de cuidados. Os cuidados são apenas para o marido de cama. Um derrame comprometeu toda sua saúde. O despertador é programado para tocar as 8h e as 16h.
Ao tocar o despertador, ela corre para dar os remédios. A sua rotina é essa. Das poucas coisas que consegue se lembrar diáriamente é o remédio do marido. Uma rotina que criou na sua vida. Ela luta diariamente para não esquecê-la. Lutar pelas memórias é a sua virtude. As fotos de pessoas e momentos espalhadas pela casa onde cada lembrança é esquecida nos cantos...
A vida é contraditória pois passamos metade da vida tentando esquecer algumas pessoas e a outra metade tentando lembrar delas.
Ela tem Alzheimer, passa os dias lutando para lembrar como vivia. O despertador toca e ela volta para as suas lembranças, o remédio está ao lado da cama. Porém, ele não está mais lá. Quando ela chega perto da cama se despera. Fica angustiada atrás dele. A cama arrumada indica faz muito tempo que ele não está lá. Ela tenta se lembrar do que aconteceu. Uma angústia na memória e uma saudade no coração. Chora e a enfermeira vem e diz que ele já faleceu fazem mais de 2 anos e diz novamente que irá desligar o despertador. Ela implora novamente para que não faça. Precisa do despertador para se lembrar da família que um dia teve. Entender a sua saudade e chorar a sua tristeza. Pior do que ter uma lembrança ruim é não ter o que se lembrar pois somos o que vivemos e não aquilo que poderia ter sido. Ela se esqueceu novamente, voltou para a ausência de passado. Esperando o despertador das 8h da manhã para voltar a viver...
Ao tocar o despertador, ela corre para dar os remédios. A sua rotina é essa. Das poucas coisas que consegue se lembrar diáriamente é o remédio do marido. Uma rotina que criou na sua vida. Ela luta diariamente para não esquecê-la. Lutar pelas memórias é a sua virtude. As fotos de pessoas e momentos espalhadas pela casa onde cada lembrança é esquecida nos cantos...
A vida é contraditória pois passamos metade da vida tentando esquecer algumas pessoas e a outra metade tentando lembrar delas.
Ela tem Alzheimer, passa os dias lutando para lembrar como vivia. O despertador toca e ela volta para as suas lembranças, o remédio está ao lado da cama. Porém, ele não está mais lá. Quando ela chega perto da cama se despera. Fica angustiada atrás dele. A cama arrumada indica faz muito tempo que ele não está lá. Ela tenta se lembrar do que aconteceu. Uma angústia na memória e uma saudade no coração. Chora e a enfermeira vem e diz que ele já faleceu fazem mais de 2 anos e diz novamente que irá desligar o despertador. Ela implora novamente para que não faça. Precisa do despertador para se lembrar da família que um dia teve. Entender a sua saudade e chorar a sua tristeza. Pior do que ter uma lembrança ruim é não ter o que se lembrar pois somos o que vivemos e não aquilo que poderia ter sido. Ela se esqueceu novamente, voltou para a ausência de passado. Esperando o despertador das 8h da manhã para voltar a viver...
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
O tempo...
O tempo é relativo. Enquanto as órbitas dos planetas vão girando, as células vão se multiplicando até a sua exaustão. Uma linha reta.
O tempo muda o próprio tempo, faz este tempo virar lembranças. As lembranças são a nossa tentativa frustada de parar o tempo. Não teremos tempo para tudo.
De todas essas emoções que o tempo traz na nossa vida deve ter alguma que sirva para descrever o próprio tempo.
De todas essas emoções que o tempo traz na nossa vida deve ter alguma que sirva para descrever o próprio tempo.
A vida é o acúmulo de tempos, tempos de erros e acertos de várias pessoas. Conforme esse tempo vai passando aprendemos a olhar o tempo cada dia diferente. Passamos a olhar o ontem com os olhos de hoje e pensamos que poderia ter sido diferente. Mas o tempo não pára nem para pensarmos no tempo que passou.
Talvez eu trocasse a eternidade por mais um dia com você, mas se fosse assim que coisas eu deixaria de viver ? Quantas sensações queremos para uma vida apenas? Quantas despedidas podemos suportar antes de nós mesmos nos despedirmos ?
Não sei aonde irei chegar, quem mais passará por mim, por onde irei passar. Mas sei aonde é o meu lugar...
Não sei aonde irei chegar, quem mais passará por mim, por onde irei passar. Mas sei aonde é o meu lugar...
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